DA ORALIDADE À AUTOMAÇÃO: A TRANSIÇÃO ÉTICADOS JUIZADOS ESPECIAIS NA ERA DA INTELIGÊNCIAARTIFICIAL

Autores

  • Barbara Lucia Tiradentes de Souza Tribunal de Justiça do Estado do Paraná Autor
  • Elisangela Veiga Pontes AMBRA University – Flórida, Estados Unidos Autor

DOI:

https://doi.org/10.62248/n9eva625

Palavras-chave:

Juizados Especiais; Oralidade; Inteligência Artificial; Governança Algorítmica; Ética Judicial; Acesso à Justiça; Automação Judicial.

Resumo

O presente artigo analisa a transição ética dos Juizados Especiais diante da inserção da inteligência artificial (IA) em seus fluxos de mediação e decisão. Partindo da oralidade como princípio fundante da Lei nº 9.099/1995, discute-se como a automação e os sistemas de IA reconfiguram o diálogo judicial e desafiam a legitimidade comunicativa prevista por Habermas (1989). Fundamentado em autores como Ayres e Braithwaite (1992), Russell (2020), Rossato (2012) e Pellegrino (2021), o estudo propõe a construção de uma governança algorítmica ética, pautada na transparência, explicabilidade e supervisão humana, conforme diretrizes do CNJ (Resolução nº 455/2022). Por meio de abordagem teórico-reflexiva, o trabalho conclui que a eficiência tecnológica deve servir à justiça e não substituí-la, reafirmando que o acesso à justiça, especialmente nos Juizados Especiais, é antes de tudo um ato de escuta e acolhimento humano. Assim, defende-se que a automação só será legítima se mantiver viva a essência da oralidade, o encontro entre palavra, empatia e prudência.

Biografia do Autor

  • Barbara Lucia Tiradentes de Souza, Tribunal de Justiça do Estado do Paraná

    Barbara Lucia Tiradentes de Souza - Doutoranda em Direitos Fundamentais e Democracia pelo Programa de Pós-Graduação em Direito do Centro Universitário do Brasil – UNIBRASIL. Mestre em Ciências Jurídicas com ênfase em Solução de Conflitos pela AMBRA University. Especialista em Direito Aplicado pela Escola de Magistratura do Paraná – EMAP. Pós-graduada em Gestão Pública com ênfase em Gestão de Pessoas pelo Instituto Federal do Paraná – IFPR. Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR. Professora do curso de Graduação em Direito da UNIENSINO.

  • Elisangela Veiga Pontes , AMBRA University – Flórida, Estados Unidos

    Advogada. Sócia da ELISANGELA PONTES – Sociedade Individual de Advocacia. Mestranda em Ciências Jurídicas pelo Programa de Pós-Graduação stricto sensu da AMBRA University – Flórida, Estados Unidos. Membro do Núcleo de Pesquisas em Direito Constitucional – NupeConst (PPGD UniBrasil). Graduada em Direito e Relações Internacionais pelo Centro Universitário Autônomo do Brasil – UniBrasil. E-mail: elisangelapontes.pesquisas@gmail.com. LATTES: https://lattes.cnpq.br/3610272161939983. ORCID: https://orcid.org/0009-0002-9007-9041 .

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Publicado

19.11.2025

Como Citar

DE SOUZA, Barbara Lucia Tiradentes; PONTES , Elisangela Veiga. DA ORALIDADE À AUTOMAÇÃO: A TRANSIÇÃO ÉTICADOS JUIZADOS ESPECIAIS NA ERA DA INTELIGÊNCIAARTIFICIAL. REVISTA JURÍDICA GRALHA AZUL - TJPR, [S. l.], v. 1, n. 32, 2025. DOI: 10.62248/n9eva625. Disponível em: https://revista.tjpr.jus.br/gralhaazul/article/view/311.. Acesso em: 3 dez. 2025.