SHAKESPEARE, MERO DISSABOR E A SOCIEDADE DO RESSENTIMENTO CONTEMPORÂNEO

Resumo

O presente artigo analisa, sob perspectiva crítica e interdisciplinar, a banalização da litigiosidade no Direito Civil brasileiro a partir do fenômeno do “mero dissabor” e sua relação com a crescente fragilidade emocional da sociedade contemporânea. A peça The Tempest, de William Shakespeare, é utilizada como estrutura alegórica central para repensar os fundamentos da resolução de conflitos, contrapondo o ciclo do ressentimento e da vitimização à ética do perdão, da escuta e da contenção. Articulando aportes teóricos de Jessé Souza, Heni Ozi Cukier, Loïc Wacquant, Nietzsche, Levinas, Foucault, Judith Martins-Costa e jurisprudência atualizada do STJ, o trabalho sustenta que a proliferação de ações judiciais por danos morais de baixa materialidade reflete um desajuste educacional e emocional, incentivado por uma cultura judicial de validação automática do sofrimento subjetivo. A partir disso, propõe-se uma ruptura com o paradigma punitivista e revanchista que contamina o campo civil, a valorização da mediação e reconciliação como pilares de uma cultura de pacificação e a reformulação dos critérios de responsabilização