EDITORIAL

Autores

  • Antônio Evangelista de Souza Netto Autor

DOI:

https://doi.org/10.62248/re0jm392

Resumo

Há um lugar onde o Direito se despe de sua couraça dogmática e se revela em sua nudez originária: o território da arte. Ali, o verbo jurídico não se limita à força imperativa do dever-ser, mas transborda em símbolos, narrativas e imagens que nos falam daquilo que não cabe nos códigos – a dor, o medo, o desejo, a culpa, a redenção.
A justiça, nesse horizonte, deixa de ser apenas instituto, processo ou decisão, e se converte em metáfora viva, pulsante, inquieta. Entre as páginas da literatura, nas telas do cinema, no palco do teatro, no traço das artes visuais e nos acordes da música, descortina-se o humano em sua inteireza, com suas falhas, virtudes, esperanças e tragédias. É nesse cenário que o juiz transcende a toga para tornar-se consciência dilacerada; o réu, mais que parte, é destino e escolha; a pena, além de sanção, é eco moral que ressoa no íntimo da sociedade.
Esta edição da Revista Gralha Azul convida-nos a habitar esse território liminar, onde o Direito se encontra com a poesia, a filosofia e a arte para refletir sobre seus próprios limites e possibilidades.
Aqui, as certezas jurídicas são submetidas ao crivo da imaginação criadora, que expõe fissuras invisíveis ao olhar técnico e revela dimensões que nem sempre ousamos perceber.
Ao reunir textos que entrelaçam ciência jurídica, estética e literatura, esta publicação busca reencantar o estudo do Direito, resgatando sua vocação humanística, pois a norma, despida de compaixão e beleza, não edifica a justiça – apenas a impõe. Por isso, faz-se necessário cultivar o olhar poético, pois é dele que brotam a prudência, aequidade e a dignidade, sem as quais a ordem jurídica perde sua razão de ser.
Faço votos de que cada artigo aqui apresentado inspire o leitor a transitar por esses labirintos simbólicos com sensibilidade e coragem, reconhecendo que, em última instância, toda hermenêutica jurídica é também um ato de criação, e que, na tessitura invisível das normas, habita a alma de um povo e o destino de sua liberdade.
Boa leitura.

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Publicado

07.10.2025

Como Citar

ANTÔNIO EVANGELISTA DE SOUZA NETTO. EDITORIAL. REVISTA JURÍDICA GRALHA AZUL - TJPR, [S. l.], v. 1, n. 30, 2025. DOI: 10.62248/re0jm392. Disponível em: https://revista.tjpr.jus.br/gralhaazul/article/view/215.. Acesso em: 12 out. 2025.