O MITO DO JUIZ ROBÔ: ENTRE A DESUMANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E A PERCEPÇÃO PÚBLICA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO JUDICIÁRIO
DOI:
https://doi.org/10.62248/8rbead48Palavras-chave:
Inteligência artificial; Juiz robô; Legitimidade simbólica; Poder Judiciário; Viés algorítmico.Resumo
Este artigo analisa criticamente o uso de sistemas de inteligência artificial (IA) no Poder Judiciário, com foco nos riscos simbólicos, éticos e institucionais associados à figura do “juiz robô”. Partindo de uma perspectiva teórico-empírica, o texto propõe que, embora a IA possa ser útil na automação de tarefas repetitivas, sua aplicação a funções decisórias centrais ameaça a legitimidade simbólica da autoridade judicial e compromete os fundamentos humanizadores da justiça. São discutidos os riscos de viés algorítmico, ausência de empatia e o efeito manada provocado pela adesão acrítica às sugestões automatizadas. A análise se apoia em revisão bibliográfica interdisciplinar e em dados empíricos extraídos da pesquisa experimental de Yalcin et al. (2023), que revelou a desconfiança do público quanto a julgamentos algorítmicos, especialmente em casos emocionalmente complexos. O trabalho conclui pela necessidade de modelos híbridos de governança da IA, em que decisões envolvendo direitos fundamentais sejam reservadas aos juízes humanos, enquanto sistemas automatizados atuem como suporte técnico qualificado, assegurando eficiência sem comprometer a legitimidade democrática da justiça.
Referências
AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli de. A força do direito e a violência das formas jurídicas. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, v. 19, p. 27-41, 2011. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-44782011000300004.
CAMBI, Eduardo Augusto Salomão; AMARAL, Maria Eduarda Toledo Pennacchi Tibiriçá. Inteligência artificial no Poder Judiciário, discriminação algorítmica e direitos humanos-fundamentais. Suprema Revista de Estudos Constitucionais, Brasília, v. 3, n. 2, p. 189-218, 2023. DOI: https://doi.org/10.53798/suprema.2023.v3.n2.a250.
CRUZ, Paula Beatriz Lima; SOUZA, Patrícia Verônica Nunes Carvalho Sobral de. Inteligência artificial no Poder Judiciário brasileiro: ameaças do robô-juiz aos direitos individuais e coletivos. Revista de Estudos Interdisciplinares, Aracaju, v. 7, n. 1, p. 1-20, 2025. DOI: https://doi.org/10.56579/rei.v7i1.1354.
DE CASTRO, Bruno Fediuk; BOMFIM, Gilberto. A inteligência artificial, o direito e os vieses. Revista Ilustração, Cruz Alta, v. 1, n. 3, p. 31-45, 2020. DOI: https://doi.org/10.46550/ilustracao.v1i3.23.
FREITAS, Tiago Alves Serbeto de. O uso de inteligência artificial em processos judiciais no Brasil: limites éticos. 2022. 167 p. Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2022.
GROSS, Nicole. What ChatGPT Tells Us About Gender: A Cautionary Tale About Performativity and Gender Biases in AI. Social Sciences, [s. l.], v. 12, n. 8, p. 435, 2023. DOI: https://doi.org/10.3390/socsci12080435.
IVONE, Vitulia et al. Decisão Robótica no Direito Italiano. In: GUIMARÃES, Maria Raquel; PEDRO, Rute Teixeira (coord.). Direito e Inteligência Artificial. Coimbra: Edições Almedina, 2023. p. 203-223.
LEÃO, Anabela Costa. Algumas notas sobre direitos fundamentais, transformação digital e inteligência artificial. In: GUIMARÃES, Maria Raquel; PEDRO, Rute Teixeira (coord.). Direito e Inteligência Artificial. Coimbra: Edições Almedina, 2023. p. 10-36.
LÓPEZ MARTÍNEZ, Raúl. Riesgos de la aplicación de la inteligencia artificial en la administración de justicia. In: CALAZA LÓPEZ, Sonia; LLORENTE SÁNCHEZ-ARJONA, Mercedes. Inteligencia artificial legal y administración de justicia. Navarra: Aranzadi, 2022. p. 555-565.
MOREIRA, Sónia. Artificial intelligence: brief considerations regarding the robot-judge. In: CARVALHO, Maria Miguel; MOREIRA, Sónia. E.Tec Yearbook: Governance & Technology. Braga: JusGov/University of Minho – School of Law, 2021. p. 297-313.
NUNES, Dierle; MARQUES, Ana Luiza Pinto Coelho. Inteligência artificial e direito processual: vieses algorítmicos e os riscos de atribuição de função decisória às máquinas. Revista de Processo, [s. l.], v. 285, p. 421-447, 2018.
O’CONNOR, Sinead; LIU, Helen. Gender Bias Perpetuation and Mitigation in AI Technologies: Challenges and Opportunities. AI & Society, [s. l.], v. 39, p. 2045-2057, 2024. DOI: https://doi.org/10.1007/s00146-023-01675-4.
PAES, Arnaldo Boson. Decisões judiciais algorítmicas: os riscos e os limites. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, Brasília, v. 27, n. 1, p. 12-17, 2023.
PEIXOTO, Fabiano Hartmann. Projeto Victor: relato do desenvolvimento da Inteligência Artificial na Repercussão Geral do Supremo Tribunal Federal. Revista Brasileira de Inteligência Artificial e Direito, Brasília, v. 1, n. 1, p. 1-20, 2020.
RAMÍREZ, Alejandro. Éric Sadin. La inteligencia artificial o el desafío del siglo. Anatomía de un antihumanismo radical. Revista de filosofía, Santiago, v. 78, p. 318-321, 2021. DOI: http://dx.doi.org/10.4067/S0718-43602021000100318.
SADIN, Éric. La inteligencia artificial o el desafío del siglo. Buenos Aires: Caja Negra editora, 2021.
SALGADO, Cristina Alonso. “La Inteligencia Artificial en el sistema de justicia penal español: algunos proyectos de interés”. In: GUIMARÃES, Maria Raquel; PEDRO, Rute Teixeira (coord.).
Direito e Inteligência Artificial. Coimbra: Edições Almedina, 2023. p. 195-202.
SALMORIA, Camila Henning; LIMA, Larissa Pinho de Alencar. SyRI: um marco na proteção dos direitos humanos na era da inteligência artificial. Revista Eletrônica Direito & TI, Porto Alegre, v. 1, n. 17, p. 32-46, 2023. DOI: https://doi.org/10.63451/ti.v1i17.172.
SHRESTHA, Sunny; DAS, Sanchari. Exploring Gender Biases in ML and AI Academic Research Through Systematic Literature Review. Frontiers in Artificial Intelligence, [s. l.], v. 5, p. 976838, 2022. DOI: ttps://doi.org/10.3389/frai.2022.976838.
STEPHENSON, Elise; BARRY, Isobel. Feminist Technology Diplomacy: An FFP Approach to Artificial Intelligence. AFFPC Issue Paper Series, [s. l.], n. 17, p. 1-7, 2024.
UNESCO. Artificial Intelligence and Gender Equality. Paris: UNESCO, 2020. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000374174. Acesso em: 01 fev. 2024.
VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. 9. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
VARGAS, Daniel Vianna; SALOMÃO, Luis Felipe. Inteligência artificial no Judiciário. Riscos de um positivismo tecnológico. Revista Justiça & Cidadania, Rio de Janeiro, edição 260, 2022. Disponível em: https://editorajc.com.br/inteligencia-artificial-no-judiciario-riscos-de-um-positivismo-tecnologico/. Acesso em: 14 abr. 2025.
YALCIN, Gizem et al. Perceptions of Justice By Algorithms. Artificial Intelligence and Law, [s. l.], v. 31, n. 2, p. 269-292, 2023. DOI: https://doi.org/10.1007/s10506-022-09312-z.
ZAFFARONI, Eugénio Raul. Poder judiciário: crise, acertos e desacertos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995.
ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Tradução de George Schlesinger. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Camila Henning Salmoria, Samuel Meira Brasil Júnior (Autor)

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.