O USO ÉTICO E RESPONSÁVEL DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO JUDICIÁRIO BRASILEIRO: IMPACTOS PARA O JURISDICIONADO E BALIZAS REGULATÓRIAS

Autores

  • Rafael Coninck Teigão Tribunal de Justiça do Estado do Paraná Autor
  • Leonardo de Andrade Ferraz Fogaça Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Autor

DOI:

https://doi.org/10.62248/w1y8bv17

Palavras-chave:

Inteligência artificial; Ética judicial; Jurisdicionado; Governança tecnológica; Dignidade humana.

Resumo

Este artigo analisa o uso ético e responsável da inteligência artificial no Judiciário brasileiro, focalizando os impactos ao jurisdicionado e as diretrizes regulatórias. Parte-se da premissa que a IA pode aprimorar a celeridade e efetividade jurisdicional, desde que observados princípios como dignidade humana, transparência e devido processo legal. A pesquisa, baseada em revisão bibliográfica e normativa, examina as Resoluções CNJ nº 332/2020 e nº 615/2025, as diretrizes internacionais e as experiências do TJPR na governança de IA judicial. Demonstra-se que, apesar das potencialidades de modernização, o uso de sistemas algorítmicos deve submeter-se a controles institucionais rigorosos, com supervisão humana e mecanismos de auditabilidade, para preservar a confiança e legitimidade das decisões judiciais. Conclui-se que a IA deve ser tratada como ferramenta estratégica a serviço da Justiça, não como fim em si mesma, priorizando-se a capacitação dos operadores do direito e a implementação de estruturas de governança que equilibrem inovação tecnológica e proteção de direitos fundamentais.

Biografia do Autor

  • Rafael Coninck Teigão, Tribunal de Justiça do Estado do Paraná

    Secretário de Tecnologia da Informação e servidor efetivo do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR). Mestre em Informática Aplicada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). ORCID: https://orcid.org/0009-0007-7179-8338. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2076767143780462. E-mail: ract@tjpr.jus.br.

  • Leonardo de Andrade Ferraz Fogaça, Conselho Nacional de Justiça (CNJ)

    Assessor da Secretaria de Estratégia e Projetos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Servidor efetivo do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR). Especialista em Governança e Inovação Pública (FGV/CAF), Direito Público (FALEG) e Sociologia Política (UFPR), é bacharel em Direito (UNICURITIBA) e tecnólogo em Gestão de TI (Faculdade OPET). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3423-7001. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1592261469736814. E-mail: leonardo.fogaca@cnj.jus.br.

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Publicado

05.05.2025

Como Citar

TEIGÃO, Rafael Coninck; FOGAÇA, Leonardo de Andrade Ferraz. O USO ÉTICO E RESPONSÁVEL DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO JUDICIÁRIO BRASILEIRO: IMPACTOS PARA O JURISDICIONADO E BALIZAS REGULATÓRIAS. REVISTA JURÍDICA GRALHA AZUL - TJPR, [S. l.], v. 1, n. 28, 2025. DOI: 10.62248/w1y8bv17. Disponível em: https://revista.tjpr.jus.br/gralhaazul/article/view/189.. Acesso em: 13 maio. 2025.